Transtorno de aprendizagem é real e nem sempre identificado pelos pais
É difícil para os pais compreenderem o motivo pelo qual o filho apresenta dificuldades de aprendizagem escolar, principalmente quando o médico relata não existirem quaisquer comprometimentos sob o ponto de vista orgânico, sensorial (visual ou auditivo) ou cognitivo (déficit de inteligência) que possam interferir no seu aprendizado.
Em geral a criança não possui uma doença grave, porém, o problema é real e não imaginário, devido a fatores constitucionais dela própria, seja por uma lentidão maturacional das funções cerebrais relacionadas à aprendizagem, seja por minúsculas lesões nas células (neurônios) ou circuitos (sinapses) neuronais que os exames de imagem ainda não tenham adequado poder de resolução para identificá-los.
A maioria das crianças com dificuldades de aprendizagem melhora à medida que cresce. Em algumas, as dificuldades se resolvem completamente, enquanto outras persistem ao longo da vida, com certo grau de dificuldade numa área específica (leitura, escrita, matemática, ou outra). Somente o acompanhamento da criança revela quais continuarão apresentando o problema e quais melhorarão com a maturação cerebral. A você, pai, cabe propiciar a seu filho um ambiente estimulador e motivador, para que ela possa envolver o hábito da leitura e do raciocínio, pois é essa conduta que pode melhorar muito o prognóstico.
Como começa
Ao nascer, cada célula nervosa do indivíduo está corretamente localizada e pronta para se desenvolver. O estímulo externo vai determinando o crescimento celular e a formação de novos circuitos de memória importantes para o estabelecimento da inteligência global. Tais células ou circuitos podem apresentar más formações ou serem alterados por agressões externas, como, por exemplo, por infecções, traumas cranianos, hipóxia cerebral. Infelizmente a célula cerebral tem reduzida capacidade de regeneração e, assim, o cérebro desenvolve a função chamada plasticidade cerebral, na qual as células íntegras podem realizar outras conexões e assumir, de acordo com o estímulo, a função daquele circuito lesionado ou que teve má formação. Um ambiente que proporcione estímulos para a criança pode motivar essa plasticidade cerebral. Um exercício de aprendizagem faz aumentar o número de sinapses cerebrais. É devido a essa função que as crianças portadoras de algum tipo de transtorno de aprendizagem escolar podem melhorar seu desempenho quando recebem adequada estimulação.
Dicas
? Não faça disso uma regra rígida, pois elas devem ser praticadas de forma natural, para que a criança não se sinta pressionada ou discriminada.
? Tenha sempre uma relação franca e honesta. Explique de forma clara as dificuldades que ela apresenta e o tipo de trabalho a ser desenvolvido. Assim, a criança poderá participar ativamente da sua reabilitação.
? Permaneça durante o ano em contato regular com os professores e demais profissionais que trabalham com seu filho para saber como ele está progredindo. Pai e mãe devem compartilhar essa responsabilidade.
? Seja encorajador, evite críticas ou rótulos, elogie o esforço e não apenas a realização. Crianças com transtorno de aprendizagem escolar, pelas dificuldades que apresentam, se tornam inseguras e com baixa autoestima. O apoio familiar é fundamental para sua motivação e restabelecimento da autoestima.
? Seu filho necessita de trabalho individual fora do período escolar, que pode ser feito por familiares, desde que tenham paciência e aptidão para ensinar. Quando ensiná-lo, não exagere. Pequenas lições diárias são melhores que longas lições esporádicas. Tente pequenas atividades de cada vez.
? Quando o treinamento é voltado para a escrita, é necessário corrigir posturas inadequadas e observar a forma correta de segurar o lápis. Algumas crianças se beneficiam de digitação em computadores, nos quais podem visualizar e memorizar as letras no teclado.
? Quando a dificuldade é principalmente em aritmética, procure estimular as atividades que envolvam números e faça isso nas pequenas coisas do dia a dia, como contar os talheres na mesa ou as meias na gaveta. Estimule as somas e as subtrações.
? Durante a leitura, estimule a criança a acompanhar as palavras com o lápis, posicionando-o horizontalmente abaixo da linha que esteja sendo lida. Alterne a leitura com a criança ? você lê um trecho e ela, outro. Depois peça a ela que explique o conteúdo da leitura.
? Pratique jogos ou brincadeiras que exijam leitura.
? Existem livros digitais gravados. Trata-se de um bom método para a criança treinar as memórias visuais e auditivas.
? Se o seu filho apresenta alguma dificuldade de linguagem, quando falar com ele, faça-o de forma lenta e clara, estabeleça pausas depois de cada frase, certifique-se de que ele entendeu e repita, se houver necessidade.
Respeitando o limite deles
Lembre-se de que a criança está passando por um processo de amadurecimento cerebral. As exigências devem estar de acordo com o potencial de inteligência que ela apresenta. Certifique-se com os profissionais se a maturidade do seu filho é adequada ao nível de expectativa que você ou a escola tem em relação a ele. Mesmo com toda a dedicação do seu filho e a sua compreensão, é possível que o progresso de aprendizagem não ocorra na velocidade que você espera. Não desanime ou projete na criança todo o seu descontentamento. Sucessos nessa área estão diretamente ligados a atitudes encorajadoras e positivas em relação à criança.
Dica de leitura
?Transtornos mentais em criança e adolescentes?, de Antonio Carlos de Farias e Mara Lucia Cordeiro. R$ 49,00, 156 páginas.
Publicado em 13/02/2017 16:37h
Atualizado em 08/10/2021 6:01h